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De que professor precisamos?

Por Celso Niskier

A porta abre e o professor entra resoluto na sala de aula. Todos os alunos se levantam, e, de pé, saúdam formalmente o mestre, que agradece com um leve aceno de cabeça, pedindo que se sentem, para que possam então começar a magistral aula.

Mais do que uma cena de filme antigo, esse modelo de professor austero e autoritário faz parte de um passado da nossa educação, tempos em que o mestre era a única autoridade e fonte confiável de conhecimentos. Muito diferente dos tempos atuais, com fontes de conhecimento tão variadas, em que muitos mestres abandonam a profissão, pressionados pela violência em sala de aula e por regimes de trabalho estafantes.

Certamente os alunos nativos da Era Digital já não tem no mestre o mesmo respeito e admiração. Possuem outras fontes de informação e conhecimento, mais interessantes e imediatas. Para muitas crianças, desligar o celular e prestar atenção a uma aula tradicional de 50 minutos é o equivalente contemporâneo às masmorras e a tortura da Era Medieval. Como conciliar essa geração digital com um professor analógico?

Em primeiro lugar, devemos nos lembrar de que não existe educação verdadeira sem a presença do professor. Seja pelo exemplo, pela orientação e pela motivação que cria, o professor é o viabilizador da aprendizagem do aluno. A ele cabe propiciar o bom ambiente de ensino e verificar o desempenho dos estudantes, dirigindo o processo e permitindo que as diferenças individuais sejam consideradas.

Seria possível a um aluno aprender sem nenhuma orientação de um professor? Tecnicamente sim, filosoficamente não. Quero dizer com isso que uma escola é mais do que um conjunto de ferramentas didáticas e tecnológicas. Uma escola é uma comunidade de aprendizagem, mediada por agentes com competência para orientar e conduzir o diálogo do aluno com as fontes múltiplas de informação. Esses agentes são os professores do amanhã: com bom domínio das tecnologias, com habilidades sociais e de relacionamento, com empatia e compaixão para com os menos capazes. Professores que sabem estimular, desafiar, orientar e colocar limites nos estudantes, criando o ambiente no qual prospera o talento e dá-se a construção do conhecimento.

Vislumbro sim, no futuro, escolas cada vez mais tecnológicas, um imperativo dos novos tempos. Mas sem a alma do professor serão apenas supermercados de conhecimentos, e não as usinas de transformação que esperamos que propiciem a construção coletiva do Brasil que queremos.

Estamos formando esses professores? Esse é assunto para uma outra conversa…

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Celso Niskier é  Diretor presidente da Associação Brasileira de Mantenedoras de Ensino Superior (ABMES) e Reitor do Centro Universitário UniCarioca

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