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Educação empreendedora: como estamos e onde queremos chegar?

Por Celso Niskier

Pesquisa inédita realizada pelo Instituto Êxito de Empreendedorismo e pela Unesco no Brasil constatou que 95% dos estudantes brasileiros de ensino médio consideram importante ou muito importante a educação voltada para o empreendedorismo nas escolas. Índice muito próximo foi verificado entre os professores consultados: 96%.

Esses e muitos outros dados fazem parte do estudo Percepções, conhecimentos e expectativas de estudantes e professores do ensino médio da rede pública brasileira sobre empreendedorismo, que ouviu 6.595 estudantes e 2.291 professores de todo o país no último bimestre de 2020. A iniciativa integra o projeto Lições de Empreendedorismo para o Alcance de uma Educação Emancipadora e Transformadora, por meio do qual serão realizadas iniciativas de planejamento, produção e oferta de um curso de capacitação em empreendedorismo para jovens de escolas públicas.

A relevância atribuída pelos estudantes vai ao encontro do perfil empreendedor do brasileiro. Segundo o Global Entrepreneurship Monitor (GEM), em 2018, pouco mais de 26% da população adulta do país tinha interesse em empreender em um futuro próximo. Entre os mais jovens, com idades entre 18 e 24 anos, o índice alcançava 43,1%. Entre a população ativa profissionalmente, 38,7% conduziam alguma atividade empreendedora em 2019.

Essa pré-disposição do brasileiro também foi constatada pela pesquisa do Instituto Êxito. Questionados sobre o que almejam para o futuro profissional, os estudantes apontaram como áreas de maior interesse as atividades de profissional liberal e o empreendimento. Na outra ponta, com menos interesse, ficaram a carreira militar e o trabalho do lar.

Ao repercutir o levantamento, o Jornal da USP no Ar 1ª Edição entrevistou o coordenador do Mestrado Profissional em Empreendedorismo da Faculdade de Economia, Administração e Contabilidade (FEA) da USP, professor Marcelo Pedroso, que foi enfático ao afirmar: “o empreendedorismo, principalmente o chamado empreendedorismo inovador, não é uma questão de sorte. Na realidade, quanto mais cedo essa competência for desenvolvida, mais sólida ela se tornará no futuro, portanto, maior a propensão ao êxito”.

Tanto essa afirmação é verdadeira que na reforma do ensino médio, ocorrida em 2017, o empreendedorismo foi estabelecido como um dos eixos estruturantes da nova política educacional do país. Para isso, a Base Nacional Comum Curricular (BNCC) passou a contemplar, além das competências técnicas, também competências socioemocionais, como iniciativa, capacidade de trabalhar em equipe e pensamento crítico.

Embora seja uma mudança relativamente recente, a maior parte dos estudantes ouvidos pela pesquisa do Instituto Êxito diz que a formação escolar recebida nesse eixo tem sido boa, embora haja muita margem para melhoria. De acordo com a pesquisa, as variáveis “Sou incentivado a buscar oportunidades e iniciativas para concretizar meus objetivos”; “Sou estimulado a planejar e estabelecer metas”; e “Sou encorajado a desenvolver minha capacidade de persistir (perseverar)” são as que os estudantes acreditam ser as mais bem desenvolvidas pelas escolas. Por outro lado, eles acreditam que a variável “A minha escola tem obtido êxito na preparação dos estudantes para o ingresso no mercado de trabalho” é a menos trabalhada.

Vale registrar que a pandemia de Covid-19 estabeleceu novos padrões. Nesse sentido, a formação para o empreendedorismo torna-se ainda mais relevante no sentido de preparar os jovens para os novos desafios. Como afirma a diretora e representante da UNESCO no Brasil, Marlova Jovchelovitch Noleto, na apresentação da pesquisa, “com a pesquisa sobre o empreendedorismo nas escolas de ensino médio, estamos ajudando na construção de um futuro com menos desigualdades e mais oportunidades para todos”.

De fato, conhecer essa realidade a partir da percepção dos estudantes, e também dos docentes, é o primeiro passo para a realização de políticas públicas que incidam sobre as lacunas e alinhem as expectativas da comunidade escolar, do mercado de trabalho e da sociedade.

O fortalecimento da educação empreendedora é uma das chaves que precisam ser giradas para que o país pavimente o caminho para um desenvolvimento social e econômico capaz de nos transformar em uma nação mais justa e igualitária. O Instituto Êxito de Empreendedorismo, fundado por Janguiê Diniz e outros 33 empreendedores, nasceu com essa missão e, em parceria com a ABMES, tem trabalhado para disseminar a educação empreendedora e o empreendedorismo. Contudo, transformar esse cenário precisa ser uma meta compartilhada por todos os cidadãos que desejam e acreditam em um futuro melhor.

Fonte: ABMES