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Entre Marte e a Lua, a avaliação da educação superior dá seus passos rumo ao século 21

Por Celso Niskier

No último 20 de abril, o Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (Inep) iniciou uma jornada histórica para a inovação das avaliações de cursos e das instituições de educação superior (IES). Por meio da Portaria Inep nº 165/2021, o órgão instituiu a Avaliação Externa Virtual in loco para as visitas de comissões de especialistas paras avaliações externas previstas no Sistema Nacional de Avaliação da Educação Superior (Sinaes).

A medida, necessária em virtude do distanciamento social imposto pela pandemia de Covid-19, tem validade até o final de outubro e deve resultar em cinco mil visitas até lá. No entanto, a nossa defesa é de que a avaliação virtual in loco se torne regra, e não exceção, no âmbito do sistema nacional de avaliação.

Não há mais dúvida de que a velocidade e com que as coisas precisaram ser repensadas e reestruturadas no último ano impôs novos padrões e acelerou tendências em diversas áreas da sociedade, incluindo a educacional. A educação mediada pela tecnologia praticamente deixou de ser um tabu para se tornar a única opção para milhões de estudantes que precisaram se afastar das escolas e universidades. Não fosse isso, o ano letivo de 2020, quando poucos municípios liberaram a abertura das escolas já nos últimos meses do ano, teria sido perdido para milhões de estudantes brasileiros.

Essa mesma tecnologia, que impediu o Brasil de ter toda uma geração de cidadãos atrasada em um ano na sua formação escolar e acadêmica, também pode, e precisa, ser utilizada para levar a regulamentação e a avaliação da educação superior a outros patamares, além de possibilitar a redução substancial do passivo de processos que aguardam na extensa fila (virtual) do Inep.

Entendemos a avaliação como um eixo central e de grande relevância para a política educacional do país, em especial como medida para a garantia da qualidade do ensino ofertado nas instituições particulares. Mas, também entendemos que novos tempos demandam novas ações, novas posturas, novos paradigmas. Há algumas décadas batemos na tecla de que a educação precisa caminhar para as novas diretrizes impostas pelo sociedade deste tempo, e a avaliação não foge à essa regra.

Vivemos em um país enorme e que demanda uma também enorme atuação do Inep. Não faz mais sentido o órgão seguir com práticas que atrasam os processos e oneram o Estado de forma significativa tendo em vista todos os recursos que já estão disponíveis hoje em dia. Estamos no século 21. A Nasa tem um robô em Marte enviando vídeos e fotografias para a Terra. Marte!

Já passou da hora do Brasil alinhar suas políticas e diretrizes educacionais com o que há de mais moderno e inovador no mundo. O argumento de que as instituições particulares de educação superior não têm comprometimento com a qualidade do que entregam é uma grande falácia que precisa ser superada. A maioria das IES age de boa-fé, até que se prove o contrário. Por isso, as avaliações precisam se atualizar também no quesito efetividade e incluir uma importância cada vez maior à autoavaliação das instituições. À priori, as avaliações precisam ter caráter pedagógico e construtivo, e não punitivo.

Enquanto não acontecer essa virada de chave, por parte dos órgãos gestores, na compreensão do papel da avaliação, e também em relação ao reconhecimento do comprometimento das instituições de educação superior com a qualidade dos serviços ofertados, seguiremos com um processo avaliativo amarrado a práticas e políticas ultrapassadas. A inovação precisa ser tecnológica, mas também precisa ser atitudinal.

É bem provável que quase ninguém tenha a oportunidade de visitar Marte um dia, mas Marte já está vindo até nós. Enquanto isso, é como se aqui no Brasil o marco regulatório da educação superior seguisse preso ao debate se o homem pisou ou não na Lua. O grande passo para a humanidade já foi dado. É chegada a hora de mirarmos as estrelas e irmos além, muito além.

Fonte: ABMES