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Felicidade também se aprende na escola

Por Celso NIskier

O que é felicidade? O Grande Dicionário Houaiss da Língua Portuguesa nos diz que felicidade é “qualidade ou estado de feliz; estado de uma consciência plenamente satisfeita; satisfação, contentamento, bem-estar”. Contudo, mais importante do que sua definição, é o impacto e as transformações trazidas por ela para as nossas vidas.

Ao longo de toda a sua trajetória, a humanidade tem pautado suas ações e conquistas na busca por esse sentimento, essa sensação. Tanto o é que grandes pensadores já se esforçaram para apontar caminhos ou direções capazes de conduzir o homem à tão almejada felicidade.

Para o escritor brasileiro Érico Veríssimo, “felicidade é a certeza de que a nossa vida não está se passando inutilmente”. O famoso escritor russo Leon Tolstói decretou que “a alegria de fazer o bem é a única felicidade verdadeira”. Já o filósofo alemão Arthur Schopenhauer concluiu que “a nossa felicidade depende mais do que temos nas nossas cabeças do que nos nossos bolsos”.

A busca pela felicidade é algo tão presente e tão significativo na vida dos indivíduos que até uma “ciência da felicidade” tem sido desenvolvida, inclusive com a criação de um índice econométrico chamado Felicidade Interna Bruta (FIB), na linha do que foi desenvolvido no Butão, que adotou o índice que inclui o bem-estar e a felicidade da população como riquezas do país. A metodologia consiste em uma contraposição ao Produto Interno Bruto (PIB), focado somente nos resultados econômicos.

Fato é que a felicidade está muito mais relacionada ao treinamento mental do que podemos imaginar. Tanto é que um curso desenvolvido por pesquisadores italianos, que inclui exercícios de meditação e debates sobre filosofia, psicologia e neurociência, tem demonstrado avanços significativos na felicidade dos participantes.

Além de relatarem redução significativa na ansiedade, na percepção de estresse, nos pensamentos negativos e nas tendências de raiva, os alunos passaram a demonstrar maior satisfação com a vida, autoconsciência, autorregulação emocional e tiveram a percepção de bem-estar ampliada.

O treinamento dos cientistas italianos foi realizado aos finais de semana ao longo de nove meses e contou com dois retiros de meditação. Mas, como a maior parte de nós não tem toda essa disponibilidade, o mais importante é prestar atenção ao que ficou empiricamente comprovado: a felicidade é uma atitude mental que pode ser desenvolvida e estimulada.

E esse estímulo não precisa acontecer em um curso específico. Ele pode se dar de diversas maneiras, inclusive no dia a dia das instituições educacionais. Cabe aos educadores a criação de um ambiente de estímulo a essa atitude mental. Ainda que não esteja no currículo acadêmico, felicidade é um item cada dia mais indispensável para a vida em sociedade e para a jornada de cada indivíduo especificamente. E isso não é pouco. Muito pelo contrário.

Como mestres, nos colocamos diante de pessoas em formação que depositam na realização profissional boa parte da sua perspectiva de felicidade. Mas, como vimos, a felicidade é mais ampla e sua conquista bem mais simples, já que depende apenas do indivíduo.

Para isso, é essencial estar atento a algumas questões. Por exemplo, um professor infeliz não consegue transmitir a importância da alegria e da felicidade. Nesse sentido, ele precisa se sentir engajado no projeto pedagógico da instituição, se sentir competente e confortável no uso da metodologia e das tecnologias utilizadas, e fazer parte do ambiente escolar de forma mais integrada.

Já entre os estudantes, é muito importante desenvolver a tolerância e a convivência com os opostos. Vale ressaltar, ainda, os resultados positivos alcançados a partir do desenvolvimento de projetos com e para a comunidade. O contentamento gerado no indivíduo a partir do bem promovido é, sem dúvida, um gatilho para a felicidade. Em sentido oposto, o uso excessivo de celulares e mídias sociais é frequentemente apontado como fonte de infelicidade, pois distancia o jovem da convivência social e apresenta flashs de uma “realidade virtual” produzida para ser vista, sem que, necessariamente, dialogue com o mundo real.

Portanto, embora a adoção de currículos que ensinem a gestão emocional e o autoconhecimento seja um caminho para a felicidade, ele não é único. As instituições também precisam estar atentas para a prática do bem e da tolerância, a garantia de um bom ambiente de trabalho ao professor, e para o engajamento junto à comunidade na qual está inserida.

Assim, é importante que apresentemos as teorias e a aplicação prática de cada profissão, mas é essencial que colaboremos para o desenvolvimento de atitudes mentais que conduzam os estudantes à uma felicidade genuína, dentro e fora dos espaços acadêmicos. A felicidade pode, e deve, ser aprendida na escola.

Fonte: ABMES