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Educação transformada pela tecnologia: a revolução que o Brasil precisa

Por Celso Niskier,

A transformação digital chegou para impactar praticamente todos os setores da sociedade, inclusive o educacional, onde tem potencial para provocar uma revolução. As novas tecnologias, que há alguns anos já se mostravam fundamentais para a transição do processo de ensino e aprendizagem para o século 21, ganharam ainda mais força após os dois anos de pandemia.

O fechamento das escolas e a migração das atividades para o formato remoto mostrou um quadro de defasagem digital muito mais profundo do que havíamos mapeado até então. Embora já existisse um debate consolidado sobre a necessidade de aprimorar as metodologias para tornar o processo educacional mais atrativo para os estudantes e mais conectado com as demandas deste tempo disruptivo, tendo a tecnologia como grande aliada, o isolamento social descortinou um cenário praticamente analógico no âmbito das instituições educacionais e do corpo docente.

Na urgência da pandemia, muitos foram os investimentos em tecnologia feitos pelas instituições educacionais. Contudo, seguimos distantes de explorar todo o potencial que a transformação digital já possibilita para área educacional. Há, porém, um grande diferencial em relação há três anos: o debate saiu de uma esfera restrita à academia e especialistas e ganhou projeção entre a população, que descobriu novas possibilidades e seus benefícios.

Assim, outro desdobramento positivo foi a maior aceitação dos estudantes à educação mediada pela tecnologia, cenário que favorece a adoção de novas metodologias educacionais, como a dos quadrantes híbridos. Desenvolvida pela Associação Brasileira de Mantenedoras de Ensino Superior (ABMES), a proposta consiste em um modelo mais alinhado às soluções tecnológicas que já se mostraram capazes de mediar o processo de ensino-aprendizagem.

A metodologia considera dois eixos: espaço (presencial ou virtual) e tempo (síncrono ou assíncrono). Ambos resultam em quatro quadrantes de possibilidades didático-pedagógicas: atividades presenciais e síncronas (PS), atividades virtuais e síncronas (VS), atividades presenciais e assíncronas (PA) e atividades virtuais e assíncronas (VA). Por um simples processo combinatório, os quadrantes abrem um mundo de possibilidades para instituições de educação superior, docentes e discentes.

Contudo, para além do uso da tecnologia como mediadora do processo de ensino e aprendizagem, outro aspecto da transformação digital que tem movimentado universidades, centros universitários e faculdades de todo o país consiste nas ferramentas dotadas de inteligência artificial que se encontram à disposição dos estudantes, a exemplo do ChatGPT.

Desde o início deste ano, quando o chatbot ganhou ampla projeção nos veículos de imprensa e se tornou conhecido pela população em geral, a comunidade acadêmica tem empenhado esforços no sentido de debater alternativas para mitigar o uso da novidade, pelos estudantes, na elaboração de trabalhos e provas. Ao mesmo tempo, bloquear ou ignorar a existência de uma ferramenta como essa não parece ser a melhor estratégia quando o que se busca é uma maior integração entre as novas tecnologias e a educação, bem como a educação digital.

Nesse sentido, temos caminhado rumo à adaptação para esse novo desafio. E, embora essa ainda seja uma questão com mais dúvidas do que certezas, é quase unânime a necessidade de reinvenção dos docentes para que explorem aspectos como o pensamento crítico dos estudantes e a resolução de problemas, renunciando a uma avaliação puramente conteudista.

Em suma, a transformação digital nos coloca diante da necessidade de construção de um novo modelo educacional em todas as suas dimensões. E isso é maravilhoso porque acreditamos ser esse o caminho que nos conduzirá a uma formação profissional e cidadã mais conectada com as demandas destes tempos, além de tornar o processo de ensino e aprendizagem mais atraente para as novas gerações.

Para chegar lá, contudo, não basta boa vontade e investimento das instituições educacionais e docentes. Há um passo anterior que precisa ser dado: as normas que regem a educação brasileira seguem amarradas a conceitos e práticas limitantes do século 19. A superação desse quadro é essencial para que escolas e instituições acadêmicas façam a transposição para uma educação integrada às novas tecnologias, usufruindo de tudo o que a transformação digital tem para oferecer.

Escolas e universidades anseiam por essa nova regulação. Estudantes e sociedade almejam uma educação mais alinhada com a realidade desses tempos disruptivos. O Brasil precisa de cidadãos mais bem preparados para atuar em mercados cada vez mais competitivos e inovadores. E a utilização das novas tecnologias no processo de ensino e aprendizagem é o fio condutor que une todos esses desejos e necessidades.

Se não quisermos ter um século perdido, comprometendo de forma substancial qualquer possibilidade de desenvolvimento socioeconômico, esse deve ser o Norte das políticas públicas educacionais. E com urgência, pois não temos mais todo o tempo do mundo.

Fonte: ABMES