Por Celso Niskier,
A desigualdade racial é uma ferida aberta e um dos grandes entraves para o desenvolvimento do Brasil, país com 56,2% da sua população formada por negros e pardos, de acordo com o IBGE. Contudo, levantamento realizado pelo jornal Folha de S. Paulo mostra que o país caminha para uma igualdade a ser alcançada já na próxima década, ao menos no que diz respeito ao acesso à educação superior.
Isso porque, de acordo com o levantamento, a proporção de negros com 30 anos ou mais com o ensino superior completo está próxima à sua representação populacional em 23 das 27 unidades da federação. Segundo o cálculo feito pelos especialistas responsáveis pela pesquisa, o país deve atingir o equilíbrio racial em 12 anos e a total equidade em 27 anos, mas há uma ressalva: a crise econômica que se arrasta desde 2014 pode atrapalhar esse desempenho.
Essa relação direta e estreita entre racismo e economia não surpreende. Aqui, os negros são 75% entre os mais pobres e os brancos 70% entre os mais ricos. E, em situações de crise, as populações mais vulneráveis costumam ter sua vulnerabilidade ampliada. Por isso, mais do que nunca, é preciso defender a manutenção e a ampliação de políticas públicas de acesso à educação superior, como o Programa Universidade para Todos (ProUni) e também o Fundo de Financiamento Estudantil (Fies), quase inviabilizado pelas reformas pelas quais passou nos últimos anos.
Ambos os programas têm a inclusão na sua essência. Por exemplo, em 2018, 61% dos estudantes beneficiados com as bolsas de estudos viabilizadas pelo ProUni eram negros ou pardos. Vale lembrar que para concorrer à uma bolsa o estudante precisa ter renda familiar de até três salários mínimos por pessoa e ter cursado o ensino médio completo em escola pública ou em escola privada com bolsa integral.
Assim, por meio da oferta de bolsas de estudos próprias e da adesão ao ProUni, as instituições particulares dão uma contribuição significativa para que os índices de brancos e negros na graduação sejam cada vez mais equitativos. Além disso, elas desenvolvem uma série de ações no âmbito da responsabilidade social.
Um exemplo dessa atuação é o Movimento Ar – Vidas Negras Importam, realizado pela Faculdade Zumbi dos Palmares, em parceria com a Sociedade Brasileira de Desenvolvimento Socio Cultural (Afrobras), que visa promover mudanças concretas em vidas negras e transformações sociais. Inclusive, a ABMES integra a iniciativa e incentiva que todas as instituições particulares de educação superior façam o mesmo.
Embora o estudo conduzido pela Folha de S. Paulo seja animador, a realidade nos mostra que há um longo caminho a percorrer. De acordo com o IBGE, em 2018, a proporção de jovens brancos com idades entre 18 e 24 anos que frequentavam ou haviam concluído a educação superior (36,1%) era quase o dobro da verificada entre a população preta e parda na mesma faixa etária (18,3%).
Modificar esse cenário depende de uma ampliação significativa das políticas públicas voltadas para a equidade racial. A superação da crise econômica e das desigualdades socioeconômicas e raciais dependem disso, e cada minuto conta.
Fonte: ABMES