Por Celso Niskier,
Quando, em 1984, James Cameron nos apresentou seu exterminador do futuro e a dominação dos humanos pelas máquinas teve gente que se assustou com a possibilidade desse futuro sombrio e teve quem duvidasse que a tecnologia pudesse evoluir tanto. Com o passar dos anos, o tema se tornou mais frequente em produções cinematográficas, séries, mas também na vida real. O desenvolvimento da inteligência artificial (IA) saiu da ficção e veio para a vida real. E hoje não vivemos sem ela.
O que demorou um pouco mais a progredir foi o debate sobre os impactos da inteligência artificial na educação. Ainda que há alguns anos tenhamos à mão recursos tecnológicos fundamentados em IA capazes de auxiliar na condução de práticas pedagógicas personalizadas e mais alinhadas com o perfil do estudante deste século, essa discussão ganhou fôlego mesmo a partir do final do ano passado, com o lançamento do ChatGPT.
Contudo, para muito além do ChatGPT, Bard, Luiza e outras ferramentas de IA que possam ser utilizadas pelos estudantes, precisamos estar atentos para todas as oportunidades e possibilidades que a inteligência artificial traz para a educação. Por meio dela, podemos revolucionar a forma como ensinamos e aprendemos, além de construir um sistema educacional mais personalizado, acessível e eficiente.
Não estou dizendo que pensar em práticas pedagógicas que contemplem esse novo cenário de IA à disposição dos estudantes não seja relevante. Sim, é. E muito. Mas nosso entendimento sobre os impactos e possibilidades de aplicação da inteligência artificial precisa ir além. Muito além.
A IA não vai substituir os professores, que são peça fundamental em qualquer processo educacional. Mas ela tem enorme potencial para auxiliá-los em situações como direcionar um atendimento personalizado para cada estudante, respeitando seu ritmo e estilo de aprendizado. A inteligência artificial também pode contribuir para que o docente explore mais o pensamento crítico dos alunos, saindo de um modelo fundamentado na mera transmissão de conhecimento para outro pautado em debates e reflexões, desenvolvendo questões como a ética, fake news, a diferença entre fatos e opiniões.
Para isso, esse professor precisa ser capacitado, precisa entender como funciona essa ferramenta poderosa que ele tem em mãos, e que utilizada de forma errada pode, inclusive, ter consequências desastrosas. E aí precisamos estar atentos para capacitar também os gestores. Eles também precisam conhecer as potencialidades e os impactos da IA na educação. Aliás, inteligência artificial precisa ser conteúdo curricular de todos os cursos de graduação se quisermos ter profissionais e cidadãos mais preparados para lidar com os desafios deste século.
Em outra frente, a IA pode contribuir para o aprimoramento da avaliação de desempenho dos alunos, permitindo análises mais objetivas e consistentes, fornecendo feedbacks mais detalhados aos estudantes e reduzindo a carga de trabalho dos docentes.
Nesse contexto, não podemos deixar de considerar também desafios que ela nos impõe, como a privacidade e a segurança dos dados dos estudantes, lembrando que temos uma rígida Lei Geral de Proteção de Dados no Brasil, e evitar que os algoritmos da IA contribuam para a perpetuação das desigualdades e discriminações que existem hoje no sistema educacional. A inteligência artificial precisa ser desenvolvida e utilizada de forma ética para que tenhamos maximizados seus benefícios na educação.
Precisamos abraçar a inteligência artificial como uma grande aliada. Compreender e fazer uso de todas as suas potencialidades é imperativo diante do processo de transformação que a educação está passando para sair do século 19 e se adequar aos dias atuais.
Ao contrário do destino sombrio apresentado por Cameron, a IA existe para nos apoiar na evolução enquanto espécie humana. E, na educação, ela vai ser responsável pelo extermínio de alguns atrasos que há décadas tentamos vencer, resultando em benefícios para toda a comunidade escolar e em uma educação mais justa, inclusiva e eficiente.
Fonte: ABMES