Por Celso Niskier
O papel da imprensa vai muito além de divulgar fatos ou anunciar decisões já estabelecidas. Ao funcionar como uma espécie de “cão de guarda” da sociedade, os meios de comunicação constituem em grandes vigilantes da máquina pública e exercem relevante atuação social. No âmbito da educação, tratam-se de agentes estratégicos para a melhoria permanente da área, essencial para o impulsionamento do progresso do país como um todo.
Foi com o objetivo de reconhecer e valorizar o mérito da imprensa para o fortalecimento da educação superior brasileira que a Associação Brasileira de Mantenedoras de Ensino Superior criou, em 2017, o Prêmio ABMES de Jornalismo. Com a iniciativa reconhecida e consolidada, no último 6 de agosto foram revelados os vencedores da 3ª edição em uma cerimônia recheada com muita emoção e expectativa, que contou com a ilustre presença dos três membros da comissão julgadora, os imortais da Academia Brasileira de Letras (ABL) Arnaldo Niskier, Marco Villaça e Merval Pereira.
Oito dos 24 trabalhos finalistas sagraram-se campeões em meio a grande diversidade de temas, sob distintos enfoques, mas que, no fim, convergiam para a relevância da educação na construção de um país mais justo, soberano e sustentável. Este ano foram efetuadas 296 inscrições nas oito categorias do Prêmio, crescimento de 30% em relação a 2017, quando foi lançada a iniciativa.
Além de cobrar as instâncias governamentais, o jornalismo se destaca também na missão de dar visibilidade a histórias de sucesso. Por meio dele, compreensões consolidadas na percepção popular ganham nome, passado, presente e futuro. Tornam-se realidade que resulta em identificação e projeção. Afinal, se aquela pessoa chegou lá, eu também posso conseguir.
São histórias como as da Edilza Maria Bento, 54 anos, e do João Batista Pereira Júnior, 22 anos, apresentados a todos por dois profissionais finalistas da 3ª edição do Prêmio ABMES de Jornalismo. Por meio delas é possível ver na prática o poder transformador da educação superior na vida das pessoas e daqueles que as cercam.
Edilza Maria é indígena, nascida e criada na pequena cidade de Baía da Traição/PB. Começou a trabalhar aos 11 anos em troca de roupa, casa, alimento e da possibilidade de estudar. Tinha nos livros seu passatempo preferido. Com determinação, cursou Letras na universidade estadual, mas queria mais. Queria ajudar sua comunidade na busca por justiça. Após cinco vestibulares, foi aprovada em Direito em uma instituição particular de ensino. Concluir a segunda graduação foi um desafio superado graças à união de colegas que a ajudaram a pagar algumas mensalidades e à faculdade, que concedeu uma bolsa de estudo. Hoje, aquela menina indígena é conhecida por todos como a Dra. Edilza Maria Bento.
João nasceu em Espírito Santo do Dourado/MG. Filho de agricultores, desde muito cedo ajudava os pais na roça, mas nunca abandonou os estudos. Na escola, os colegas riam quando falava do sonho de estudar medicina. Mas, por ser bom aluno, ganhou bolsas de estudos nas melhores escolas da cidade. O sonho quase utópico tornou-se realidade quando foi aprovado na Unicamp. Foram seis anos de muito estudo até a conclusão da graduação, em 2018. Hoje, o Dr. João Batista Pereira Júnior é médico-residente em ginecologia e o orgulho da família.
É difícil imaginar que alguém não se sinta tocado ao assistir ou ler essas duas histórias de transformação promovida pela educação – assim como tantas outras retratadas quase que diariamente pelos veículos de comunicação brasileiros. É esse poder de mobilização e de pautar determinados temas na sociedade que nos faz acreditar na força da imprensa como um dos elementos fundamentais para a transformação do cenário educacional do Brasil. Por isso, que venha a 4ª edição do Prêmio ABMES de Jornalismo!
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Celso Niskier é Diretor presidente da Associação Brasileira de Mantenedoras de Ensino Superior (ABMES) e Reitor do Centro Universitário UniCarioca