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Mentira é coisa séria!

Por Jessica Galdino, estudante de Jornalismo do Centro Universitário UniCarioca,

A desinformação tem se espalhado na velocidade recorde de um clique. Com os avanços, o uso da Internet já conta com mais de 5 bilhões de usuários, de acordo com o estudo Digital 2022: Global Overview Report, publicado pelo site Datareportal, representando quase 63% da população do mundo. Já as chamadas “fake news”, que seriam as “notícias falsas”, também estão ganhando espaço.

As notícias, antes de serem publicadas, passam por um crivo rigoroso de apuração, objetividade e critérios de noticiabilidade. Mas o grande problema é que, muitas vezes, a credibilidade jornalística tem sido prejudicada pela disseminação das “fake news”, que partem de ruídos, rumores ou até mesmo de estratégias políticas de manipulação.

Facebook, Instagram, Twitter, Tiktok, entre tantas outras redes sociais, são espaços descentralizados que facilitam esse compartilhamento de informações criadas propositalmente por pessoas que não são necessariamente jornalistas para enganar outras pessoas, em grande escala, sem nenhuma ética ou responsabilidade,

Vemos o exemplo do ex-presidente Donald Trump, que usa a sua rede social no Twitter para compartilhar com seguidores informações sem nenhuma base ou evidência, acusando, por exemplo, o processo eleitoral americano de fraude. No Brasil, as “fake news” também estão associadas ao meio político: um estudo da Universidade de Oxford coloca o país como “tropa cibernética” de desinformação.

“Na indústria da desinformação global, o Brasil está posicionado como um país com ‘tropas cibernéticas’ de capacidade média”, afirmou ao Estadão, em entrevista por e-mail, a pesquisadora Antonella Perini.

Essas ações de “propaganda computacional” têm como objetivo favorecer grupos políticos e atacar opositores, promovendo a polarização na sociedade. Essa promoção, como afirma o estudo, são orquestradas profissionalmente por agências governamentais, empresas privadas, partidos políticos e influenciadores digitais. “As mais utilizadas estratégias no Brasil foram mensagens pró-governo, ataques à oposição e polarização”, disse Perini. “Mais frequentemente, os ataques são voltados contra jornalistas e meios de comunicação que são críticos ao governo, e ainda contra políticos e funcionários públicos.”

Essa mentira tem gerado o descrédito dos comunicadores que, muitas vezes, são atacados, segundo relatório da Federação Nacional dos Jornalistas (Fenaj). “O número de agressões a jornalistas e a veículos de comunicação manteve-se nas alturas em 2021 e, pelo segundo ano consecutivo, foi o maior desde que a série histórica começou a ser feita na década de 1990”, relata a presidenta da Fenaj, Maria José Braga. No ano que passou, foram 430 casos, dois a mais que os 428 registrados em 2020.

As “fake News” também estiveram presentes na pandemia da Covid-19. Informações falsas, muitas vezes compartilhadas por pessoas influentes, acabaram gerando um desserviço e trazendo impactos sérios.

Vale lembrar o caso do médico Andrew Wakefield, que no final da década de 1990 apresentou uma pesquisa preliminar, publicada na conceituada revista científica Lancet, descrevendo 12 crianças que desenvolveram comportamentos autistas e inflamação intestinal grave. O artigo levantou a hipótese de esses problemas estarem relacionados com a vacina MMR, trazendo uma onda de “fake news”, ao afirmar indiretamente que a vacina causava autismo. Isso fez com que o número de vacinações MMR diminuísse drasticamente no Reino Unido e ao redor do mundo. O caso despertou o interesse do jornalista Brian Deer, que começou uma investigação meticulosa sobre o ocorrido, descobrindo que Wakefield havia sido pago por advogados interessados na queda das ações das indústrias farmacêuticas.

A pandemia também foi alvo de teorias conspiratórias a respeito da procedência e eficácia das vacinas: mesmo tendo sido comprovadas cientificamente, o negacionismo e as “fake news” se espalharam, fazendo com que muitos afirmassem até mesmo que a mídia tinha inventado a existência do vírus e os números de casos, menosprezando a letalidade do vírus, que somente no Brasil resultou até agora em 660 mil mortes pelos números oficiais, número tido como subdimensionado por grupos de pesquisas ligados a universidades federais. Também tivemos os casos de automedicação com hidroxicloroquina e ivermectina divulgados nas redes sociais, geralmente acompanhados de falsos relatos de sucesso, mesmo tais medicamentos sendo comprovadamente ineficazes no combate ao vírus.

Infelizmente, as “fake news” trazem consequências sérias, como destruir a reputação de uma pessoa ou até mesmo levá-las à morte, como foi o caso da mulher espancada no Guarujá, em São Paulo, acusada de práticas de magia negra contra crianças, após boatos postados nas redes sociais.

Tudo isso comprova que, antes de se compartilhar qualquer informação, é necessário ler a matéria até o final, fazer uma checagem cuidadosa, verificando as fontes, quem está noticiando, tomar cuidado com títulos tendenciosos. Em casos de influenciadores famosos na internet, é importante conferir se são de fato qualificados para falar sobre o assunto postado. Redigir e levar ao público material informativo de qualidade, mesmo que desagrade aos poderosos e aos que desejam manter ocultos seus atos ilícitos, é tarefa dos bons jornalistas; passar adiante somente informações úteis e verdadeiras é responsabilidade de todos.