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OCDE e mais um doloroso “resumo da educação” brasileira

Por Celso Niskier,

Na semana passada, a Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE) divulgou a edição anual do seu já tradicional Education at a Glance. Em 2023, o relatório destaca a educação profissional e apresenta dados de 49 países, entre eles o Brasil. Mais uma vez, o cenário verificado em terras brasileiras não é nada animador.

Para começar, o documento mostra o quanto a educação profissional ainda é um grande gargalho em nosso país. Aqui, apenas 11% dos estudantes do ensino médio, com idades entre 15 e 19 anos, estão matriculados na educação profissional. A distância em relação a outros países é enorme. A média entre as nações que integram a OCDE é de 37%.

Quando a idade do estudante aumenta, o cenário é ainda mais desafiador. Enquanto no Brasil apenas 11% dos estudantes de 20 a 24 anos estão matriculados em cursos profissionalizantes, a média da OCDE é de 65%. Considerando que para essa faixa etária o nível educacional, no Brasil, consiste na educação superior, há que se refletir sobre o quanto o acesso à graduação ainda é um desafio em nosso país.

Outro dado nada animador consiste na proporção de jovens adultos (18 a 24 anos) que nem estudam e nem trabalham, os “nem-nem”. No Brasil, 24,4% da população com esse recorte etário vive nessa condição, enquanto a média dos países que integram a Organização é de 14,7%. O levantamento constatou, ainda, que, aqui, essa situação também tem um forte recorde de gênero: entre as mulheres, o índice é de 30% ante a taxa de 18,8% verificada entre os homens.

Embora sejam inúmeros os fatores que resultem em um panorama tão complexo e desigual em relação às nações mais desenvolvidas, é fundamental destacar um aspecto decisivo para a construção das adversidades enfrentadas na esfera educacional brasileira: o investimento público em educação. E o levantamento da OCDE mostra o quanto estamos aquém dos países que obtiveram resultados melhores.

De acordo com a Organização, em 2020, o Brasil investiu US$ 4.306 por estudante de escolas públicas, da educação infantil ao ensino superior. Entre as nações que integram a OCDE a média foi de US$ 11.560. Vale pontuar que 2020 foi o primeiro da pandemia de covid-19. Talvez por isso, a média de investimento na área dos países ligados à organização tenha crescido 2,1% no ano. Na contramão dessa tendência, aqui foi registrada uma queda de 10,5% do investimento público na educação.

Por fim, o documento chama a atenção para as condições de trabalho oferecidas aos docentes, critério no qual o Brasil também não ficou bem avaliado. No nosso país, os professores do ensino médio trabalham com turmas que possuem, em média, 25 estudantes, ao passo que a média entre os países que integram a OCDE é de 14 alunos.

De forma isolada, os dados dão a dimensão dos desafios que o Brasil tem pela frente (embora não sejam surpreendentes, pois temos boas estatísticas educacionais). Contudo, o grande mérito do estudo realizado pela OCDE consiste em colocar a nossa educação sob a perspectiva global, nos mostrando o quanto estamos defasados. Em síntese, ele joga luz sobre o porquê de estarmos onde estamos em diversos contextos da nossa existência, como o político, o social, o econômico e o ambiental.

Há alguns anos o Brasil vem se esforçando para aderir ao seleto grupo de países que integram oficialmente a OCDE. Por ora, somos apenas parceiros. Minha esperança é a de que queiramos estar lá não apenas para ter as vantagens de integrar a Organização, como o ganho de credibilidade econômica e estarmos mais alinhado com a geopolítica mundial. Minha esperança é a de que queiramos estar lá para nos alinharmos naquilo que tem feito a diferença para o progresso e a melhoria da qualidade de vida nas nações mais desenvolvidas: a educação.

Fonte: ABMES