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Tecnologia na educação: uma ferramenta para quem?

Por Celso Niskier, 

Global Education Monitoring Report (GEM 2023), da Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (Unesco), chama a atenção de governos e especialistas na área educacional para os cuidados que devem ser tomados ao promover a integração entre educação e tecnologia. Isso porque, segundo o documento, o uso da tecnologia aumentou a desigualdade educacional, além de ser um recurso que, muitas vezes, não tem sido utilizado de forma apropriada.

Nesse contexto, o relatório pontua o fato de que, durante a pandemia de Covid-19, o aprendizado on-line permitiu que mais de 1 bilhão de estudantes seguissem com suas atividades escolares, mas, pelo menos, meio bilhão de pessoas (31% dos estudantes do planeta) não tiveram essa mesma oportunidade.

Em outro momento, destaca que a inclusão da tecnologia na educação deve ser centrada “nos resultados da aprendizagem e não nos insumos digitais”, e cita como exemplo o Peru, que distribuiu mais de 1 milhão de laptops aos estudantes, mas não obteve resultados porque esse novo recurso não foi incorporado à pedagogia. Na ponta oposta, estão os resultados alcançados pela China, que reduziu as disparidades de rendimento entre os estudantes das zonas urbana e rural a partir de uma atitude simples: a gravação de aulas de alta qualidade e sua distribuição para 100 milhões de estudantes rurais.

Ao apontar essas questões, a Unesco não tem como objetivo propor uma volta no tempo e a exclusão das novas tecnologias do processo de ensino e aprendizagem. Tanto o é que destaca benefícios como a facilitação no acesso a recursos educacionais; a estruturação de melhores ferramentas para estudantes com deficiência; e efeitos positivos para alguns tipos de aprendizagem.

A reflexão proposta é a de que “o uso da tecnologia na educação deve ser adequado a cada contexto, inclusivo e equitativo, escalável e sustentável”. Para isso, o GEM Report 2023 afirma que é preciso colocar a aprendizagem e o bem-estar dos alunos no centro de todo o processo. Parece uma proposta simples, mas temos feito tudo certo?

Desde que integrar tecnologia e educação passou a ser uma demanda para sociedade e governos, quantos casos semelhantes ao do Peru podemos elencar? Será que na pressa para mostrarmos resultados não temos negligenciado aspectos relevantes? De acordo com o relatório, “como grande parte da tecnologia não foi elaborada para a educação, sua adequação e seu valor precisam ser comprovados em relação a uma visão da educação centrada no ser humano”.

E aqui eu aproveito para reforçar a importância de pensarmos em um novo modelo baseado na educação híbrida. Por exemplo, a metodologia dos quadrantes híbridos, elaborada pela ABMES, tem como pressuposto central a otimização da união entre os recursos tecnológicos e as práticas de ensino, tornando o processo de aprendizagem mais efetivo, atraente e alinhado às demandas e às práticas destes tempos atuais.

Seja para ofertar aos estudantes uma educação mais alinhada com as ferramentas que eles estão acostumados a lidar, seja para ampliar o leque de possibilidades didático-pedagógicas, o uso das tecnologias em sala da aula precisa ser muito bem planejado. De fato, não há como imaginar uma transição da educação para o século 21 sem todas as possibilidades proporcionadas pela tecnologia, mas ela, por si só, não resolverá todos os problemas da educação – e se for mal aplicada pode até criar novos.

Há muito outros pontos relevantes que mereceriam ser pontuados aqui, mas não quero me estender. Assim, sugiro uma leitura atenta do material, acompanhada da uma profunda reflexão sobre a educação que queremos, como a tecnologia pode nos ajudar a chegar lá e qual o papel de cada um nesse processo. Tenho certeza de que nós, educadores natos que somos, saberemos encontrar caminhos para um bom e eficiente uso da tecnologia nas nossas instituições educacionais, além de apoiarmos o governo na construção de diretrizes e políticas alinhadas com o que há de melhor nessa área

Fonte: ABMES