Por Celso Niskier,
Faculdade atrai alunos, mas mensalidade cai. Com esse título, matéria da repórter Beth Koike, veiculada no último dia 9 de maio no jornal Valor Econômico, chama a atenção para dois pontos bastante debatidos durante o XIV Congresso Brasileiro da Educação Superior Particular (CBESP), ocorrido entre os dias 5 e 7 deste mês: a redução do tíquete médio das mensalidades e a “guerra de preços” protagonizada pelas instituições particulares de educação superior.
Conforme ela destaca, levantamento realizado pela ABMES em parceria com a Educa Insights constatou uma redução nos valores médios diante do agravamento da crise econômica resultante dos dois anos de pandemia. Em contraposição, as matrículas no primeiro semestre de 2022 chegam a alcançar 30% de expansão em algumas IES.
O resultado em relação ao crescimento no número de ingressantes não chega a surpreender, pois trata-se de uma consequência esperada após quase dois anos de retração e retenção da demanda. Contudo, não se pode ignorar o fato de que, para além da alta da inflação e do desemprego, algumas instituições passaram a praticar preços muito inferiores aos cobrados antes da chegada do coronavírus.
Se por um lado essa redução contribui para viabilizar o acesso de milhares de estudantes à educação superior, por outro, da forma como tem sido conduzida, ela provoca o debate sobre a mercantilização da educação. Em síntese, como definiu o publicitário Nizan Guanaes na abertura do CBESP, o setor particular de educação superior está focado em uma “guerra de preços” e não na geração de valor e na identificação do estudante com a instituição de ensino.
Guanaes citou como exemplo as propagandas veiculadas pelo setor nos comerciais de TV: “é só preço, preço, preço”. Segundo ele, o sucesso de uma empresa pode ser medido por uma régua oposta, ou seja, pelo fato de ela não estar submetida a uma guerra de preços. Nesse sentido, o publicitário defendeu que as instituições particulares de educação superior precisam repensar suas estratégias de marketing de forma a gerar nos estudantes os sentimentos de pertencimento e orgulho da sua faculdade, centro universitário ou universidade. Para isso, ele conclamou o setor a se unir em torno desse objetivo maior.
Sim, união é a palavra-chave do momento. O movimento #EuSouOFuturo é um exemplo concreto de que quando setor se une resultados incríveis são alcançados. Logo no seu primeiro ano, a iniciativa reuniu quase 2/3 das instituições particulares de educação superior do Brasil em torno de um projeto com foco na educação e na valorização do setor, e não no preço das mensalidades.
Esse é o caminho que, juntos, devemos buscar enquanto mantenedores. É hora de tirar o foco do preço e levar para a relevância do serviço que ofertamos. É hora de trabalharmos, por exemplo, por uma legislação que flexibilize as amarras e nos dê maior autonomia, mas sem abrir mão da qualidade.
Não há dúvida de que o preço ainda é significativo no processo decisivo do estudante, mas a nossa estratégia não pode ser a mesma de um vendedor de feira: “na minha banca é mais barato”! Temos que batalhar por políticas públicas que favoreçam o acesso dentro de um contexto de valorização do produto diferenciado com o qual trabalhamos. Caso contrário, entre mortos e feridos, ninguém se salvará.
Nesse sentido, precisamos mudar o direcionamento das nossas estratégias. Se dois restaurantes se estabelecem em uma mesma rua, são concorrentes. Mas, se cinco se estabelecem, a rua vira um polo gastronômico – e todos ganham. Precisamos transformar o Brasil em um grande polo de educação.
Fonte: ABMES