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A quem interessa discriminar a educação à distância?

Por Celso Niskier, 

A qualidade da educação superior está mais uma vez em debate. O foco, no momento, são os cursos à distância. Nada de novo, exceto pela criação de uma falsa polarização entre a modalidade e as graduações presenciais e a visão equivocada de que o EaD é um dos maiores entraves para o alcance da excelência do ensino.

As manifestações contrárias partem de análises superficiais de dados originários de pesquisas e estudos parciais, dentre eles, os resultados recentes do Enade (Exame Nacional de Desempenho dos Estudantes). Sem o devido aprofundamento, autoridades e representantes de instâncias corporativistas direcionam os discursos para um lugar que distorce a realidade e não colaboram para o debate efetivo e eficiente sobre a formação superior de milhões de brasileiros.

Antes de mais nada, é preciso esclarecer que a educação à distância é uma modalidade amplamente utilizada no mundo e com sucesso inquestionável. Tal qual nos países desenvolvidos, como Reino Unido e Espanha, a oferta de graduações à distância no Brasil atende à população que, mesmo distante dos grandes centros, tem a possibilidade de formação e capacitação que a habilita para a vida e a carreira. Hoje, são mais de 4,3 milhões de estudantes matriculados em cursos à distância em instituições presentes em 3.100 municípios, 60% do total. Na maioria dessas localidades, a modalidade é a única opção de acesso ao ensino superior. Por que os excluir do mundo da educação superior?

Diante da queda no número de alunos presenciais nos últimos anos, é a educação à distância que está permitindo o crescimento do acesso e da democratização do ensino superior no Brasil, colaborando para o atingimento das metas do PNE (Plano Nacional de Educação). Sem essa opção aos estudantes, estaríamos vergonhosamente aquém dos objetivos que foram definidos para 2024.

Com relação à qualidade, dados divulgados pela consultoria Hoper Educação sobre o Enade 2022 indicam que os resultados dos alunos de EaD foram equivalentes àqueles do presencial. Os alunos de EaD acertaram 40,21% das questões de formação específica contra 39,78% do presencial. No critério de formação geral, o presencial ficou em vantagem de 51,35% contra 47,21%. Onde está o gap de qualidade alegado por muitos defensores do atraso?

Considerando a expansão recente, o MEC (Ministério da Educação) deve dar especial atenção ao monitoramento da oferta, bem como elaborar novos meios para supervisionar a qualidade, com critérios específicos que permitam que as IES (Instituições de Ensino Superior) possam inovar e usar os novos recursos digitais, sem deixar de atender aos padrões qualitativos mínimos exigidos por lei.

Melhorar a qualidade sim, proibir não. E não custa reforçar: a ampla maioria dos cursos EaD oferecidos atendem aos requisitos estabelecidos pelo Ministério.

No futuro próximo, o ideal seria abolir a dicotomia presencial-EaD, reconhecendo a autonomia para que as instituições educacionais definam o melhor formato de oferta de seus programas pedagógicos, usando as novas tecnologias e sempre dentro dos padrões de qualidade estabelecidos. Esse é o momento de convergir e não de divergir.

Discriminar e proibir o EAD, como tem sido a proposta de muitos, sem oferecer a oportunidade de melhoria da qualidade, é a pior das estratégias, com risco da volta da elitização da educação superior no Brasil.

Fonte: ABMES