Por Celso Niskier
O tempo dos aventureiros no mercado de educação brasileiro, especialmente superior, já passou. Com o novo cenário gerado pela pandemia da Covid-19, a escassez de recursos e de financiamentos públicos, o aumento da concorrência e a dificuldade de captação de alunos, as instituições de ensino superior dependem cada vez mais de uma gestão profissionalizada e disruptiva.
O ambiente competitivo com o qual lidamos diariamente no setor põe em xeque a aplicabilidade das estratégias de negócios organizacionais utilizadas até agora. Por essa razão, a busca por fórmulas e formatos inovadores e eficazes tem envolvido gestores e acadêmicos, ora focados no plano tático da instituição, ora no modelo de negócio e, mais recentemente, focados nas ferramentas de transformação digital.
Aliás, estas são as palavras de ordem hoje: inovação e transformação digital. A incorporação de novas tecnologias é imprescindível para todos os setores da economia, sobretudo para os atores da área educacional, como é o nosso caso. A área acadêmica das instituições tem a obrigação de oferecer as ferramentas mais avançadas para que os alunos estudem e aprendam na sua própria linguagem e tempo. Isso significa não só o uso de plataformas de e-learning (Sistema de Gestão de Aprendizagem), mas, principalmente, da chamada aprendizagem adaptativa, que personaliza a metodologia de acordo com as características do aluno.
A administração acadêmica precisa usar também as ferramentas de analytics de forma que a estratégia educacional possa ser adequada ao perfil de cada turma. Desta forma, a utilização da Inteligência Artificial permite que tutores possam, no primeiro momento, tirar dúvidas do aluno, deixando para o professor as questões mais complexas de definição da própria estratégia de aprendizagem.
Outro ponto muito importante na adoção de ferramentas disruptivas é a separação entre tecnologia, conteúdo e certificação. O detentor da tecnologia já não é mais necessariamente a instituição, pode ser um parceiro, por exemplo. O conteúdo pode vir de qualquer lugar, inclusive do YouTube, e a certificação ainda resiste como o último baluarte de pertencimento à instituição de educação superior.
A direção acadêmica será disruptiva se ela souber aliar tecnologia, conteúdo e certificação com foco nas competências que, de fato, farão a diferença no futuro do mercado de trabalho.
Com relação à parte administrativa, fazer mais com menos é fundamental! Hoje a direção das instituições, considerando a intensa concorrência que enfrentam, deve saber utilizar melhor e de forma otimizada os recursos tecnológicos, financeiros e humanos.
Por falar nisso, não há nada mais disruptivo do que investir no aprimoramento e capacitação das habilidades humanas. É preciso entender que instituições de qualidade não são feitas somente de equipamentos modernos e de novas tecnologias, mas sim de mentes brilhantes, isso inclui tanto do corpo docente quanto os demais colaboradores que auxiliam no fazer educacional, do porteiro ao auxiliar de laboratório.
Criar um ambiente no qual tanto os funcionários quanto os professores possam se sentir participantes, atuantes e motivados é disruptivo, pois isso impactará diretamente na experiência dos alunos, que certamente estarão bem mais motivados, o que implicará em melhores resultados para a instituição.
Esses são os princípios de uma administração disruptiva no ensino superior, tanto na gestão acadêmica, quanto na condução dos recursos meio das organizações educacionais. Portanto, instituições modernas e bem-sucedidas jamais devem perde-los de vista, sob pena de fracassarem em seus modelos de negócio e planos de captação de novos alunos.
Esses são os temas debatidos no GEduc 2020, realizado entre 27 e 31 de julho, que conta com minha participação como moderador do painel “Gestão Disruptiva na Educação Superior: Práticas Promotoras de Perenidade das IES na atual realidade educacional”.
Fonte: ABMES